Rato na congregação

O culto já se encaminhava para o fim, depois de mais de quatro horas desde o seu início. Na congregação estava reunido um grupo de pouco mais de quarenta sudaneses, oriundos de uma zona de guerra localizada no norte do país. Após ter compartilhado as Escrituras por cerca de meia hora, sentei-me na primeira fileira. Permaneci ali atento aos anúncios, até que fui distraído por um vulto próximo a única entrada do local. Para minha surpresa, identifiquei que o que roubava a minha atenção era um rato. Enquanto os meus olhos se arregalavam e os meus pelos se arrepiavam ante ao medo de que o animal causasse uma imensa confusão, ele passou tranquilamente pela porta e se moveu em direção aos que estavam sentados na fileira ao lado. Ao ver aquela cena meu coração quase parou. Com determinação e agilidade ele correu para os fundos da sala, ziguezagueando entre as pernas de homens, mulheres e crianças que encontrou pelo caminho. Extremamente tenso e sem saber o que fazer, fiquei aguardando pelo momento em que a congregação irrompesse aos gritos e corre-corre. Surpreendentemente, a reação das pessoas foi totalmente diferente da que estava imaginando. Elas simplesmente ignoraram a presença do roedor e continuaram demonstrando atenção aos avisos que eram apresentados pelo dirigente do culto. Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Abaixei discretamente a cabeça, pus a mão no rosto e por alguns momentos passei a considerar a possível reação se algo semelhante tivesse acontecido no salão de culto da minha igreja local no Brasil. Garanto que a atitude não teria sido de passividade. O pavor teria tomado conta de alguns e o culto teria provavelmente se encerrado ali. No entanto, não estou mais no Brasil, mas na África! Sim, aqui as pessoas estão inseridas em outro ambiente cultural, social, linguístico e reagem aos eventos do cotidiano de maneira distinta. Apesar de algumas similaridades com o Brasil, a vida na África é bem diferente. Mesmo com o passar dos anos e servindo em diferentes países do continente africano, ainda estou me adaptando a ela.

Por Jairo de Oliveira

Fonte: Morávios


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