Casa de oração para todos os povos
Queridos irmãos,
Graça e paz!
“Quando eu tinha 10 anos, tentei visitar uma igreja. Contudo, quando cheguei ao santuário, fui informada de que não poderia entrar. Destacaram que por ser de origem muçulmana o meu lugar de adoração era a mesquita. Fiquei profundamente decepcionada com aquela experiência e voltei para casa aos prantos. Eu era apenas uma menina e tudo o que queria era aprender como os cristãos adoram a Deus.”
Eu fiquei atônito quando ouvi esse relato. A jovem, hoje, com 25 anos, percebeu a minha perplexidade e logo entendeu que eu divergia da postura daquele grupo de cristãos. “Leila, Deus não faz acepção de pessoas, o evangelho é para todos!” Em seguida, reenfatizei o caráter universal do evangelho, citando Isaías 56.7: “porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos”. Diante disso, Leila aproveitou a oportunidade para saber um pouco mais sobre a fé cristã e pediu para que eu compartilhasse a minha visão sobre o conceito de Trindade. Ciente de que esse é um assunto envolto em controvérsias no mundo muçulmano, voltei a citar textos bíblicos e respondi destacando que há um só Deus que existe eternamente como Pai, Filho e Espírito Santo. Em função da distorção que o Islamismo faz dessa doutrina, Leila acreditava que o conceito cristão de Trindade estava baseado na crença em três deuses que coexistem a partir de uma estrutura de tipologia familiar: pai (o Pai eterno), mãe (Maria) e filho (Jesus). A jovem demonstrou gratidão e surpresa ao final da nossa conversa. Suas últimas palavras foram: “Eu nunca tinha ouvido o ensino dessa forma. Agora eu compreendo.” Semanalmente, tenho semeado verdades bíblicas na vida dessa jovem, na expectativa de colher frutos eternos em algum momento próximo. Como Leila, há tantos outros no país (98% da população é muçulmana!) que nunca tiveram a oportunidade de visitar uma igreja ou de ouvir sobre o Salvador. É a partir da convocação divina para transformar realidades assim que estamos aqui. Que o Pai nos ajude a aproveitar cada oportunidade a fim de tornarmos a mensagem da cruz conhecida em nosso contexto de ministério.
A nossa família vai bem, após termos superado um período bastante desafiador com respeito à saúde dos filhos. Há cerca de um mês, nosso filho mais novo teve uma infecção nos ouvidos causada por um quadro de otite média e pegou uma conjuntivite viral. Em seguida, o mais velho teve uma crise alérgica e foi diagnosticado com conjuntivite, sinusite e bronquite. Foram dias bastante difíceis. As lembranças das dificuldades de saúde que passamos com o mais velho no Sudão nos atemorizou, mas, graças ao nosso bom Deus, os meninos foram devidamente medicados, observaram um tratamento com antibióticos e se recuperaram plenamente. Pedimos que continuem intercedendo pela saúde deles uma vez que o clima aqui se apresenta bastante adverso em diferentes momentos do ano.
No mês de fevereiro, realizamos os eventos que havíamos planejado para observar o aniversário de 20 anos da guerra em Darfur no Sudão. Os eventos falaram ao coração dos nossos amigos sudaneses. Eles expressaram grande gratidão pela nossa iniciativa de chamarmos a atenção para um cenário de guerra que atualmente é ignorado pela comunidade internacional. Ao final de um dos eventos, um dos senhores da etnia Fur nos encorajou ao declarar: “Vocês são a nossa voz”.
No final de fevereiro, participei da conferência anual da Refugee Highway Partnership (RHP) na Europa, que aconteceu em Nápoles, na Itália. Nessa edição, a conferência enfocou o trabalho com refugiados africanos no continente europeu. Fui convidado para compartilhar a minha experiência de trabalho com refugiados africanos e apresentar o conteúdo do meu último livro (Changing Stories: Responding to the Refugee Crisis Based on Biblical Theory and Practice) que aborda a crise migratória mundial.
Os dias de conferência foram de muito aprendizado e de interações edificantes com alguns dos mais de 500 participantes. O seminário que conduzi teve uma excelente participação e de lá saíram algumas possibilidades de parcerias estratégicas para beneficiar o trabalho aqui no Oriente Médio. Todavia, a minha passagem pela Itália começou com uma experiência bastante difícil. No primeiro dia da conferência, um evento catastrófico relacionado à crise migratória mundial abalou a Itália e os participantes do encontro. Naquela segunda-feira, dia 27 de fevereiro, uma embarcação com mais de 100 imigrantes foi lançada pelo mar contra um recife, levando a óbito mais de 60 pessoas, oriundas do Irã, do Paquistão e do Afeganistão. Frente a mais essa catástrofe em um mundo que perece diante dos nossos olhos, a voz divina continua conclamando: “Quem enviarei? Quem irá por nós?” (Is 6.8). Apesar desse desastre, no decorrer da conferência, ouvi testemunhos fascinantes de participantes que foram alcançados pela graça divina durante o período em que viveram em situação de refúgio, o que nos faz relembrar que o Todo-poderoso está agindo em meio aos movimentos migratórios e como cooperadores de Deus (1 Cl 3.9) devemos continuar participando da grande obra que a Trindade está realizando entre as nações.
Por último, queremos compartilhar mais uma boa notícia com todos vocês. No último mês, firmamos um novo contrato literário com a Wipf and Stock Publishers que publicará o meu décimo sexto livro. A obra está baseada na minha tese de doutorado, será publicada inicialmente em inglês e vai se chamar: “Esperança para os aflitos” (Hope for the afflicted). Que o Pai abençoe, multiplique e use mais esse recurso como os pães e peixes que, ao serem depositados nas mãos de Jesus, foram empregados para alimentar multidões (Mc 6.30).
Saibam que somos muito gratos pelos seus joelhos resilientes, lábios encorajadores e mãos tão generosas.
Em Cristo,
Família Oliveira
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